DA FONTE E DOS BANHOS DE SANTA EUFÉMIA EM SINTRA - II

CAPÍTULO II - SANTA EUFÉMIA NA CARTOGRAFIA (VER CAP. I)
Autoria: Degraconis - Pesquisa: Sintra Subterrânea | (Ver capítulos anteriores)
24.02.2012

Considerados os excertos documentais a respeito da fonte de Santa Eufémia e seus banhos, havia que, e na mesma linha de orientação, vasculhar a cartografia que eventualmente a contemplasse, já que era um local de  veneração popular por parte dos enfermos e dos féis[1].
S
Ainda antes de embarcar em tal empresa, já "O Caminheiro de Sintra" alertava para o mais antigo mapa que se conhece do Parque da Pena levantado pelo Tenente Coronel J.A. d'Abreu no ano de 1856, a mando de D. Fernando II que havia acabado as obras do Palácio Acastelado da Pena e suas envolvências[2].De facto, encontra-se neste e de forma quase imperceptível, apontamento da fonte, o que se ao autor destas linhas tinha passado despercebido, não havia sido assim com o companheiro de pesquisas, o que veio a enriquecer consideravelmente este capítulo.

Mapa "Real Parque da Pena" de  Tenente Coronel J.A. d'Abreu

Consultaram-se também os diversos mapas dos encanamentos de Sintra: “Planta das minas e encanamentos d’agua do Almoxarifado de Cintra” levantada em 1898; “Planta das minas e encanamentos d’agua do Almoxarifado da Pena” do mesmo ano;  e a “Planta do Real Paço e da villa de Cintra” de 1850, todos da autoria de J. A. d’Abreu Victal.

Mapas da autoria de  J. A. d'Abreu Victal

Destes, apenas o mapa do Almoxarifado da Pena parece dar indicação da fonte de Santa Eufémia (ou somente da mina), sem contudo fazer qualquer referência que permita ter certezas inequívocas quanto a isso. Reforça essa possibilidade o facto da legenda apontar a C.M.S – Câmara Municipal de Sintra como proprietária dessa mina, visto não ter sido a fonte uma aquisição, mas sim alvo de escritura de aforamento[3] a D. Fernando II pela própria câmara, assim como o facto de apenas se ter localizado no terreno a mina de água apontada no mapa à sua esquerda[4].

“Planta das minas e encanamentos d'agua do Almoxarifado da Pena”

Lograda semelhante tarefa sobre mapas congéneres de menor importância[5] fomos surpreendidos pelo mapa que se insere nas “Fontes e Bibliografia para apoio à investigação histórica do Palácio e Parque da Pena”[6]. A legenda inserida sobre o local da Fonte dissipa qualquer dúvida quanto à sua localização, mas mais significativo para a pesquisa que vínhamos a desenvolver foi a revelação da configuração interna da fonte, a qual, todavia parece não concordar com a descrição que António Cunha fez em 1905. Informa-nos este, estender-se a mina por cinco metros ao passo que o mapa revela uma maior profundidade e bifurcada em três braços.

Mapa de J. A. d'Abreu Victal de 1898 inserido em “Fontes e Bibliografia 
para apoio à investigação histórica do Palácio e Parque da Pena”

Considerada a aparente divergência entre o que se verifica no mapa e o que António Cunha descreve, fomos levados a estender a investigação: Félix Alves aponta cinco metros de profundidade mas não terá “in loco”  conhecido o seu interior, visto colocar como fonte de informação precisamente a passagem de António Cunha retirada do livro “Cintra Pinturesca" e quanto às pesquisas efectuadas sobre outras obras, não surtiram os efeitos desejados, pelo que só nos restava mapear a mina, caso fosse possível a penetrar, ou então tentar recolher testemunho de quem a tivesse conhecido e disso conservasse lembrança.

Não sendo de todo possível verificar a sua configuração interna, viemos a obter informação através de testemunha idónea que a tinha conhecido e retinha suficiente memória da mina, a ponto de nos ter presenteado com um desenho muito semelhante ao que se verificava no mapa[7].  Assegurou-nos que os cinco metros apontados por António Cunha deviam referir-se ao braço da mina de menor comprimento, visto os outros dois braços (os laterais) serem de considerável extensão, terminando qualquer um dos túneis em pedras jorradoras. Indagámos quanto à existência de elementos desenhados no interior da mina, eventualmente alguma(s) cruz(es) gravada(s), ao que respondeu de que não tinha lembrança de ter visto alguma[8].

Foi este testemunho posteriormente corroborado por um outro inquirido, que além de a ter conhecido na sua meninice, e na mesma ter recolhido água várias vezes (dizendo que os banhos já estavam em desuso nessa altura), recordava a construção do habitáculo que se encontra actualmente do lado esquerdo, o qual não consta do desenho da fonte da autoria de J. Alfredo Azevedo. Teria sido essa nova construção, que recolhe numa cisterna as águas da mina, a responsável pelo desvio da água que outrora corria para a bica da fonte[9].
S
Capítulos anteriores

Próximos capítulos
CAP. IV - EM TORNO DA SUA ANTIGUIDADE
 CAP. V - DAS ÁGUAS MIRACULOSAS E DA SUA MINA

Para receber em pdf a publicação envie email para: sintra.subterranea@gmail.com

1 comentário: